quarta-feira, 25 de maio de 2011

Literatura de cordel (y'

Comparações

            Essa literatura popular impressa existiu em diversos países, como a França até o século XIX, também Portugal e Espanha até as primeiras décadas do século XX. Há exemplares de volantes recuados no tempo, século XV. Mas nos anos setecentos e oitocentos, os "Colportage" e os "Canards" franceses alcançaram grandes tiragens; a ponto de existirem coleções numerosas, felizmente conservadas, como a "Bibliothèque Bleue". Houve mesmo um segmento profissional que se dedicava à edição dos folhetos franceses, em Troye, Avignon, Lyon, Paris, Bordeaux, Lille, Nantes, Rouen, Toulouse; também em Madri, Barcelona, Lisboa, Porto, etc. Na Espanha, a Biblioteca Nacional dispõe de grande coleção. Em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu, de particular, uma pequena porém significativa coleção. No Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa possui uma das maiores coleções brasileiras.
            É no Brasil que essa produção popular persiste com aceitação de seu público original, apesar de novos entretenimentos, como rádio e televisão. E tendo conquistado aquele outro público, de estudiosos, colecionadores eruditos, turistas.
            Se tentarmos alguma comparação dessa literatura abrangendo material dos quatro países, podemos chegar a contrastes interessantes.
            No Brasil, prevalece a forma poética à prosa, preferentemente em redondilha maior (versos de sete sílabas contadas até a última tônica) e seis "pés" (versos), portanto a sextilha. As rimas ocorrem no segundo, quarto e sexto pés: ABCBDB.

O Reino do Barro Branco
é defronte uma colina
cortada por quatro rios
de água potável e fina
fica nos confins da Ásia
bem perto da Palestina.


Severino Milanês da Silva, O Príncipe do Barro Branco e a Princesa do Vai Não Torna.
            Nos demais países, é grande a presença do texto em prosa.
            Os temas permitem várias classificações, como já foi feito por estudiosos brasileiros, americanos e europeus, desde narrativas tradicionais transmitidas oralmente e que passaram à mídia escrita, como é o caso da donzela Teodora, do cavaleiro Roldão no ciclo carolíngeo, da princesa da Pedra Fina, do dragão de sete cabeças, dos Contes de Fées, do romance de aventuras Andrionico y el león, ou a novela Desengaños Amorosos (esta de l647), até ficção sobre temas de amor, humor, aventura, sem esquecermos o chamado cordel circunstancial, que é o folheto de caráter jornalístico ou "folheto de época": refere-se a um fato acontecido e o relata destacando aspectos importantes e até exagerando no sensacionalismo. Os exemplos são inúmeros, mostrando como o ser humano está frequentemente ávido por novidades, por notícias atuais:: Os posseiros do Maranhão, de Ary Fausto Maia; A renúncia do ex-presidente Dr. Jânio Quadros, de Rodolfo Coelho Cavalcante; O choro de Itabuna depois da enchente, de Minelvino Francisco Silva; Pelé na Copa do Mundo e o Brasil tri-campeão, de Severino Amorim Ferreira; Saída do presidente Médici e posse do novo presidente Ernesto Geisel, de Cunha Neto; É a gasolina subindo e o povo passando fome, de António Lucena de Mossoró; A tragédia da Belém-Brazília (não assinado); O plano Collor em ação muda a face da nação, de Adalto Alcântara Monteiro; Debates de guerra entre Bruxe e Sadam Russem, de Abraão Batista.      Na década de 70, quando a mini-saia revolucionou o guarda-roupa feminino, o trovador Minelvino Francisco Silva lançou A moda da mini-saia e a garota braza viva. Por essa época, o já citado Rodolfo Coelho Cavalcante lançou A moça que mordeu o travesseiro pensando que era Roberto Carlos - que, dá para percebermos — é a estória alegre de um sonho perturbador....

            Na França, parece que o sensacionalismo foi muito marcante: Détails sur deux assassinats; Malheureueses innondations; Détails sur la mort tragique de la fille de M. Delatour; Horrible assassinat suivi de viol; Terrible naufrage; Innondation dans les Départaments / Détails des cruels désastres survenus à Orléans; Oraison funèbre de Napoleón Bonaparte; Dernières paroles de sa majesté Louis XVIII.
Nesta modalidade jornalística ou de atualidade, os folhetos brasileiros podem ser agrupados em ciclos temáticos, como os do Cangaço e especialmente de Lampião, também do padre Cícero, do suicídio de Getúlio Vargas, das visitas do papa, do fracassado governo Collor de Melo, etc. Na França, Napoleão constitui um ciclo evidente, crimes constituem outro. Esse tratamento da atualidade contrapõe-se às criações inspiradas em temas tradicionais, como João de Calais, Carlos Magno e seus Pares, donzela Teodora, Branca de Neve e tantos outros. Em Portugal, no começo do século XX foram também usuais edições sobre cançonetas, refletindo o gosto pelo teatro de variedades, da época. 

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