quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dois Cordelistas Sergipanos
            Apresentamos neste quadro duas pequenas bio-bibliografias de dois dos mais atuantes cordelistas sergipanos da atualidade: João Firmino Cabral, sexagenário e experimentado nas rimas do cordel fiel a tradição da cultura nordestina. E José Antonio dos Santos, que cria seus livretos inspirados na realidade social brasileira e na militância dos movimentos sociais.
João Firmino Cabral

            João Firmino Cabral é filho de Itabaiana / SE e escreve livros de cordel a 45 anos. Já publicou mais de 58 obras do gênero. No ano de 1976 ganhou o primeiro prêmio do concurso de literatura de cordel da Universidade Federal de Pernambuco; em 1978 recebeu prêmios de literatura de cordel da Caixa Econômica Federal, dos SESC e SENAC; em 1982 ganhou a medalha de menção honrosa da Universidade de Campina Grande. Em 17 de março de 2001 foi condecorado pelo prefeito de Aracaju com a medalha do Mérito Cultural Inácio Barbosa.
            Atualmente João Firmino possui uma banca no mercado Antonio Franco, na qual vende livretos de cordel de sua autoria e de outros escritores. Além da banca no mercado o escritor vende suas obras em escola de Aracaju quando é convidado para dar palestras sobre a literatura de cordel.
As principais obras de João Firmino são:
  • A vingança de um inocente;
  • Amor e martírio de uma escrava;
  • A revolta de um escravo;
  • O mostro sem alma;
  • Os heróis do destino e o monstro da mata escura;
  • O pistoleiro vingador;
  • As lutas de Jurandir e o amor de Lucimar;
  • A feira do pobre no tempo da carestia;
  • A prisão dos pistoleiros de Santa Brígida;
  • A morte do coroné Ludugero;
  • Os martírios de um professor;
  • É crime não saber ler;
  • A saga de lampião;
  • O exemplo da moça que dançou lambadão no inferno;
  • A coragem de um vaqueiro em defesa do amor;
  • A profecia do jumento que falou no Nordeste;
  • O exemplo do ateu e o vaqueiro que tinha fé em Deus;
  • O encontro de Lampião com o coronel Pinga-Fogo

José Antonio dos Santos
            José Antonio dos Santos nasceu em Oiteiros , povoado de Moita Bonita /SE filho de pequenos agricultores. É licenciado em História pela U.F.S. professor da rede pública estadual. Além de militante de movimentos populares.
            Zé Antonio tem proferido palestras sobre Literatura de Cordel em escolas das redes públicas e particular de ensino. Em 1999 recebeu o prêmio Albert de Cultura, do colégio Albert Einstein ( atual Colégio Intellectus).
Como poeta popular já publicou mais de 35 obras, entre as quais se destacam:
  • O sofrimento do nordestino;
  • O guerreiro de Belo Monte;
  • A história de uma mulata que teve um filho sobrinho;
  • A história do fazedor de marajás;
  • A história do homem da floresta;
  • A história do ouro negro de um reino tropical;
  • O peão da construção;
  • Lampião : O guerreiro do sertão;
  • A história do padre Cícero e os coronéis do Cariri;
  • O mito da independência e o estouro do caldeirão;
  • A história do plebiscito: golpe ou transformação;
  • A história do movimento estudantil no Brasil;
  • O movimento Diretas-Já na história do Brasil;
  • O plano FHC e o regime do terror;
  • 500 anos de história da dominação do Brasil;
  • A exploração do Brasil e os efeitos da dívida externa;
  • Preserve a água: fonte da vida;
  • O manifesto comunista (comentado em cordel);
  •  O império colonial na ALCA alça a América.

Oliveira de Panelas e Ivanildo Vilanova

            O repentista pernambucano Ivanildo Vila Nova, co-autor da célebre canção-manifesto "Nordeste Independente (Imagine o Brasil)", sucesso perene na voz de Elba Ramalho desde 1984 - comemorou 60 anos de idade.
            Ele é hoje o maior repentista brasileiro. Seu trabalho se destaca pela sutileza de seus versos, pela síntese de seus improvisos e pela variedade temática. Após 40 anos de carreira, mantém-se no topo da pirâmide, admirado por todos aqueles que reconhecem a sua responsabilidade pelo crescimento da Cantoria e sua luta para profissionalizar a Arte do Repente.
            No ano 2000, foi eleito o Cantador do Século XX, concorrendo com nomes como Cego Aderaldo, Dimas Batista e Pinto do Monteiro, em rigoroso processo de votação conduzido pelos líderes das Associações de Cantadores do Nordeste, os apologistas (incentivadores) da Cantoria e os próprios cantadores.
            Para comemorar seu aniversário, Ivanildo Vila Nova lançou um DVD, que traz entrevista aberta ao público, concedida ao jornalista e ator cearense Ricardo Guilherme, no programa Nomes do Nordeste onde conta sua história de vida e trajetória artística. O Nomes do Nordeste colhe e grava entrevistas, abertas e gratuitas ao público, das principais personalidades artísticas nordestinas, reconhecidas nacional e internacionalmente.
            Nascido em Caruaru (PE), em 13 de outubro de 1945, Ivanildo Vila Nova cresceu acompanhando seu pai, o famoso cantador José Faustino Vila Nova, pelas noitadas de cantorias. Se a vida do repentista naquela época era extremamente espinhosa, para um menino, então, o sacrifício era extremo.
            Ao abraçar a Arte do Improviso, Ivanildo não queria apenas ser mais um no cenário da poesia. Era imperioso que o quadro existente fosse modificado para a sobrevivência da Cantoria.
            Antes de Ivanildo Vila Nova, a Cantoria era amadora, onde o compromisso era apenas com o divertimento, o lúdico, a boemia. Com ele, aconteceu a profissionalização, a elevação do cantador à categoria de artista.
            Os mais céticos apostavam que a cantoria, ao sair do sertão para ganhar espaço nos grandes centros, estaria fadada à extinção. Porém, com a ascensão de Ivanildo e dos cantadores de sua geração (Geraldo Amâncio, Moacir Laurentino, Sebastião Dias, Severino Ferreira e Sebastião da Silva, entre outros) abriu fronteiras. O trabalho dessa geração saiu do sertão para a cidade, saiu do Nordeste para outras regiões, chegando até a outros países.
            Ivanildo Vila Nova, 60 anos de idade e 40 de repente, permanece se dedicando exclusivamente à Arte do Improviso, edificando tijolo por tijolo as paredes desse templo da poesia, conhecido simplesmente por Cantoria de Viola.
            Nascido em 13/10/1945, Caruaru-Pe filho de Repentista (José Faustino Vila Nova) canta desde os 12 anos e tornou-se profissional em 1963 começou meio que obrigado pelo pai, que fazia com que ele decorasse folhetos inteiros e cantasse durante as cantorias.
            Depois viu que não tinha jeito, entrou com gosto resolvendo moralizar a profissão, muito discriminada à época.
            Fundou e presidiu a Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos em Campina Grande em 1974, instituiu cachê e horário para as cantorias pé de parede.
            Foi eleito pela crítica e pelos próprios cantadores, o cantador do Século em 2000.
            Representou Pernambuco na França em 2005 e no anterior percorreu toda a Europa.
            Tem Cds com: Raimundo Caetano, Severino Feitosa, Geraldo Amâncio, Sebastião Dias, João Paraibano, Oliveira de Panelas, Valdir Teles e outros.
            Vencedor em mais de 300 Festivais de violeiros, ex:Recife, João Pessoa, C.Grande, Mossoró, Patos, Caruaru, Petrolina, Gravatá, Fortaleza, Teresina...
            Trabalhos Gravados por: Elba, Xangai, Ton Oliveira, Alcimar, Amazan, Flávio José, Gereba.
            Idealizador do Desafio Nordestino de Cantadores em PE.
            Cidadão do Rio Grande do Norte, mantém programa na Rádio Liberdade de Caruaru.
Trabalhos Marcantes;
            IMAGINE O BRASIL SER DIVIDIDO E O NORDESTE FICAR INDEPENDENTE//
A HISTÓRIA FARÁ SUA HOMENAGEM A FIGURA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO//ORGULHO DE SER NORDESTINO// NÃO CONHEÇO ESQUERDISTA
 

Literatura de cordel (y'

Uma mídia em evolução
           
            A literatura de cordel continua um expressivo meio de comunicação neste século XXI, apesar da morte, tantas vezes anunciada, ao longo dos tempos. Felizmente, enquanto expressão cultural, permanece, adaptada, reinventada, no desempenho de suas funções sociais. Informar, formar, divertir, socializar ou poetizar, conforme os diferentes temas que retrata e o enfoque abordado.
            Da oralidade, lá em suas origens remotas, à era tecnológica, hoje, é real a transformação e adaptação, compatível à própria evolução da humanidade. Os folhetos impressos em tipografias artesanais, tipo a tipo organizado manualmente, impressos em papel jornal de qualidade duvidosa. Fotos de artistas da época ou de xilogravuras temáticas embelezavam suas capas. Das maletas, que serviam de bancas de venda, os folhetos eram pendurados em cordões (cordéis) e vendidos nas feiras das pequenas cidades. Percorriam espaços geográficos diferentes. Venciam o tempo. Cantados na feira ou nos sítios tinham o texto parado para aguçar a curiosidade dos ouvintes e compradores – estratégia de marketing... Já comprados eram guardados, como preciosidade, por uma população quase sempre analfabeta. Resumidamente, essa foi a trajetória da literatura de cordel em fins do século XIX até meados do século XX, período onde grandes nomes fizeram escola.
            A partir da década de 70, o folheto foi sendo rebatizado: literatura de cordel. Estudiosos do folclore e acadêmicos passaram a se interessar em pesquisar o folheto – seus temas, seus autores, suas influências na comunicação de massas, etc. Novos nomes vão aparecendo e sendo difundidos. Novas temáticas são abordadas – afinal, como meio de comunicação, os folhetos precisam estar antenados aos fatos da atualidade. Impressão de qualidade. Divulgação na internet, em sites específicos. Novas formas de apresentação: eventos culturais, feiras de artesanato, concursos de violeiros, entre outros.
            O bom de tudo é que, o folheto ou a literatura de cordel, enriquece a já reconhecida e não tanto preconceituosa pluralidade cultural do nosso Brasil. 

Literatura de cordel (y'

Do santo ao diabo
 
           
Ora, esse enfoque do grotesco envolvendo seres humanos e animais excepcionais, monstros, seres fantásticos parece habitar o imaginário dos autores dos quatro países aqui tratados (e de outros mais); afinal, do imaginário dos povos. Como podemos verificar pelo volante francês Le grand terrorifer d’Afrique, ou o Recit veritable, touchant le monstre espouventable & extremement horrible, nommé le Canesque, ou le Dragon Marin du Fare de Messine (de 1649); e, em Portugal, a Relação verdadeira da espantosa Féra... (que assustava habitantes de Chaves em l760).
            Os trovadores contemporâneos brasileiros não deixam por menos: O estudante que se vendeu ao diabo; o tantas vezes reeditado Peleja de Riachão com o Diabo, ambos de João Martins de Atahyde, A moça que o diabo tomou conta para a matar de fome, de Abraão Batista; muitas preocupações do ser humano face ao sobrenatural, como refletido está em Jesus e o Diabo, versos e xilogravura de Dila. Ou ainda encontros de pessoas famosas no céu ou no inferno, como o cangaceiro Lampião que chega ao inferno e logo se põe a discutir com Satanás. E não é só ele: há o Encontro do presidente Tancredo com o presidente Getúlio Vargas no céu, de Manoel d‘Almeida Filho; Lampião e Maria Bonita no Paraizo do Édem, tentados por Satanás, de João de Barros. Parece que, no Brasil, esses encontros, as pelejas, as narrativas de encantamento, os folhetos "de época" e outros vão continuar, embora nos demais países — aí sim — o cordel morreu ou está moribundo. 

Literatura de cordel (y'

Ficção humorística

            Ocorre ainda a presença da jocosidade, em textos abertamente humorísticos ou em textos irônicos, ou ainda na exploração de boatos (que o autor popular logo capta e utiliza para sua criatividade). Alguns títulos ajudam a compreensão desse grande número de folhetos, cá e lá: Piadas de Bocage, de António Teodoro dos Santos; O grande debate de Camões com um sábio, de Arlindo Pinto de Souza; As perguntas do rei e as respostas de Camões, de Severino Gonçalves de Oliveira; Disparates em verso, de Armando Barata e Artur do Intendente; A padeira de Aljubarrota, de J. A. d’Oliveira Mascarenhas (estes dois de Portugal).
Mas a lista seria interminável: O homem que casou com a jumenta, de Olegário Fernandes da Silva; A mulher que engoliu um par de tamancos com ciúme do marido, de José Costa Leite; História do macaco que quis se virar gente, de Minelvino Francisco Silva; O rapaz que casou com uma porca no estado de Alagoas, de José Soares; O rapaz que virou burro em Minas Gerais, de Rodolfo Coelho Cavalcante; História da razão dos cachorros cherarem o feofó uns dos outros, de Abraão Batista; e também História de um galego que trocou a mulher por uma vaca (sem assinatura, editado em Lisboa).
            Se para uma pessoa de cultura urbana do Rio de Janeiro, de São Paulo ou de outras cidades progressistas do Sul-Sudeste títulos assim podem parecer exotismo demais, e portanto levar até a desprezo, nem sempre isso se confirma. Quando Rodolfo escreveu A moça que bateu na mãe e virou cachorra (mais de 20 edições), com várias gravuras de uma figura com corpo de cadela e cabeça de moça, não estava brincando: é o relato sério de um "causo" acontecido. Dizem. Como acontecido foi, ou assim tratado, o fato que motivou O papa-fígado de criança que apareceu em Minas Gerais, de Minelvino Francisco Silva. Da realidade ao fantástico é um pulo, o que explica o êxito de textos que seguem a linha de O homem que virou bode, versos e capa personalística de Dila.

Literatura de cordel (y'

Ilustrações

            As capas dos folhetos têm somente dizeres chamativos ou também ilustração. Quando a ilustração se acha presente, é comum basear-se em xilogravura, porém pode ser desenho e clichê de zinco e, no caso do pernambucano Dila, a gravura em borracha, adotada no final da década de 80.
            O citado "Canard" de grande formato sobre a oração fúnebre de Napoleão Bonaparte, datado de 1821, tem ilustração mostrando uma cena de velório, com Napoleão morto cercado por um sacerdote, uma mulher e dois oficiais; tudo adornado por um cortinado, à guisa de dossel da gravura. Mas em outras obras, como as marcadas por título que se inicia com Détails..., as cenas não raro mostram uma pessoa degolando, esfaqueando, enfim matando cruelmente a vítima. No Brasil, na Espanha e em Portugal parece menos frequente essa visualidade do crime. Mas não escapam do insólito: Grande e horrível crime de uma mulher que matou seu próprio marido com uma faca de cozinha é um exemplo português, não único.
            Por outro lado, há diversos folhetos portugueses da década de 50 que mostram desenhos coloridos na capa, quer dizer, aplicando-se modernas técnicas gráficas; outros, do final do século XIX, têm desenhos em branco-e-preto — o que era mais comum, nos quatro países. Entre os brasileiros, além de edições feitas na região nordestina, geralmente em branco-e-preto e de modo artesanal, existem atualmente edições ou reedições feitas em São Paulo e Rio de Janeiro, com alguma sofisticação gráfica e capas em cores.

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Comparações

            Essa literatura popular impressa existiu em diversos países, como a França até o século XIX, também Portugal e Espanha até as primeiras décadas do século XX. Há exemplares de volantes recuados no tempo, século XV. Mas nos anos setecentos e oitocentos, os "Colportage" e os "Canards" franceses alcançaram grandes tiragens; a ponto de existirem coleções numerosas, felizmente conservadas, como a "Bibliothèque Bleue". Houve mesmo um segmento profissional que se dedicava à edição dos folhetos franceses, em Troye, Avignon, Lyon, Paris, Bordeaux, Lille, Nantes, Rouen, Toulouse; também em Madri, Barcelona, Lisboa, Porto, etc. Na Espanha, a Biblioteca Nacional dispõe de grande coleção. Em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu, de particular, uma pequena porém significativa coleção. No Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa possui uma das maiores coleções brasileiras.
            É no Brasil que essa produção popular persiste com aceitação de seu público original, apesar de novos entretenimentos, como rádio e televisão. E tendo conquistado aquele outro público, de estudiosos, colecionadores eruditos, turistas.
            Se tentarmos alguma comparação dessa literatura abrangendo material dos quatro países, podemos chegar a contrastes interessantes.
            No Brasil, prevalece a forma poética à prosa, preferentemente em redondilha maior (versos de sete sílabas contadas até a última tônica) e seis "pés" (versos), portanto a sextilha. As rimas ocorrem no segundo, quarto e sexto pés: ABCBDB.

O Reino do Barro Branco
é defronte uma colina
cortada por quatro rios
de água potável e fina
fica nos confins da Ásia
bem perto da Palestina.


Severino Milanês da Silva, O Príncipe do Barro Branco e a Princesa do Vai Não Torna.
            Nos demais países, é grande a presença do texto em prosa.
            Os temas permitem várias classificações, como já foi feito por estudiosos brasileiros, americanos e europeus, desde narrativas tradicionais transmitidas oralmente e que passaram à mídia escrita, como é o caso da donzela Teodora, do cavaleiro Roldão no ciclo carolíngeo, da princesa da Pedra Fina, do dragão de sete cabeças, dos Contes de Fées, do romance de aventuras Andrionico y el león, ou a novela Desengaños Amorosos (esta de l647), até ficção sobre temas de amor, humor, aventura, sem esquecermos o chamado cordel circunstancial, que é o folheto de caráter jornalístico ou "folheto de época": refere-se a um fato acontecido e o relata destacando aspectos importantes e até exagerando no sensacionalismo. Os exemplos são inúmeros, mostrando como o ser humano está frequentemente ávido por novidades, por notícias atuais:: Os posseiros do Maranhão, de Ary Fausto Maia; A renúncia do ex-presidente Dr. Jânio Quadros, de Rodolfo Coelho Cavalcante; O choro de Itabuna depois da enchente, de Minelvino Francisco Silva; Pelé na Copa do Mundo e o Brasil tri-campeão, de Severino Amorim Ferreira; Saída do presidente Médici e posse do novo presidente Ernesto Geisel, de Cunha Neto; É a gasolina subindo e o povo passando fome, de António Lucena de Mossoró; A tragédia da Belém-Brazília (não assinado); O plano Collor em ação muda a face da nação, de Adalto Alcântara Monteiro; Debates de guerra entre Bruxe e Sadam Russem, de Abraão Batista.      Na década de 70, quando a mini-saia revolucionou o guarda-roupa feminino, o trovador Minelvino Francisco Silva lançou A moda da mini-saia e a garota braza viva. Por essa época, o já citado Rodolfo Coelho Cavalcante lançou A moça que mordeu o travesseiro pensando que era Roberto Carlos - que, dá para percebermos — é a estória alegre de um sonho perturbador....

            Na França, parece que o sensacionalismo foi muito marcante: Détails sur deux assassinats; Malheureueses innondations; Détails sur la mort tragique de la fille de M. Delatour; Horrible assassinat suivi de viol; Terrible naufrage; Innondation dans les Départaments / Détails des cruels désastres survenus à Orléans; Oraison funèbre de Napoleón Bonaparte; Dernières paroles de sa majesté Louis XVIII.
Nesta modalidade jornalística ou de atualidade, os folhetos brasileiros podem ser agrupados em ciclos temáticos, como os do Cangaço e especialmente de Lampião, também do padre Cícero, do suicídio de Getúlio Vargas, das visitas do papa, do fracassado governo Collor de Melo, etc. Na França, Napoleão constitui um ciclo evidente, crimes constituem outro. Esse tratamento da atualidade contrapõe-se às criações inspiradas em temas tradicionais, como João de Calais, Carlos Magno e seus Pares, donzela Teodora, Branca de Neve e tantos outros. Em Portugal, no começo do século XX foram também usuais edições sobre cançonetas, refletindo o gosto pelo teatro de variedades, da época. 

Literatura de cordel (y'

Início e continuidade

            Por falar em Portugal: como tantos outros fatos culturais brasileiros, essa literatura popular tem parentes entre os lusos. Mas está ligada também a cantorias e a desafios acompanhados de viola. Parece que os primeiros folhetos de trovador, no Brasil, foram impressos no final do século XIX. Leandro Gomes de Barros e João Martins de Atahyde são dois dentre os primeiros poetas; livrinhos de sua autoria continuam sendo reeditados, com direitos vendidos e revendidos. As tiragens totais acabam sendo difíceis de serem contabilizadas, calculando-se em milhares e milhares de exemplares. São famosos títulos como O cachorro dos mortos, Juvenal e o dragão, História da donzela Teodora, e outros de Leandro Gomes de Barros (Pombal-PB, 1865; Recife-PE, 1918); também Casamento e mortalha no céu se talha, História da princesa da Pedra Fina, Batalha de Oliveiros com Ferrabraz, Como se amança uma sogra, Rolando no Leão de Ouro, Os sofrimentos de Alzira, estes de João Martins de Atahyde (Ingá-PB, 1880; Recife-PE, 1959), e mais outros de autores falecidos, como José Bernardo da Silva, José Camelo de Melo Resende, Severino Milanês da Silva, Francisco das Chagas Batista, José Soares, Joaquim Batista de Sena, Rodolfo Coelho Cavalcante e outros. Dentre os que continuam produzindo, podemos citar Abraão Batista, em Juazeiro do Norte-CE; Minelvino Francisco Silva, em Itabuna-BA; o pernambucano João de Barros que reside em São Paulo; o paraibano Raimundo Santa Helena que reside no Rio de Janeiro; outro pernambucano fabuloso que é José Cavalcante e Ferreira, que também assina José Ferreira da Silva ou apenas Dila; J. Borges, em Bezerros-PE; Adalto Alcântara Monteiro, em Santa Maria do Pará-PA; e muitos outros.

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A Literatura de Cordel continua viva no Brasil

            Afinal, a chamada literatura de cordel, no Brasil, não morreu; está completando cerca de cem anos bem vividos. Esse gênero de poesia popular impressa, que ocorre especialmente no nordeste, passou a ser valorizado por brasileiros depois de um artigo de Orígenes Lessa na revista Anhembi, publicado em dezembro de 1955, e talvez principalmente depois de outro artigo, do estudioso francês Raymond Cantel, publicado no Le Monde de 21 de junho de 1969. A partir de inícios da década de 70, o assunto virou coqueluche para estudiosos brasileiros, formando-se considerável bibliografia em que se incluem teses e mais teses. Também muitos artigos foram publicados, inclusive de interessados de última hora que se precipitaram em afirmar, de pés juntos, o fim do cordel. Vinte anos depois, podemos observar que — a despeito de estar implícito no dinamismo sócio-cultural o possível desaparecimento de traços folclóricos — o cordel continua vivinho da silva. Até virou souvenir para paulistas, cariocas, mineiros, gaúchos em passeio por feiras nordestinas ou em centros de turismo como o Pátio de São Pedro (Recife), a Emcetur (Fortaleza), o Mercado Modelo (Salvador) e outros locais. O estudioso Joseph M. Luyten calcula em 100 mil títulos editados, o que é apenas uma estimativa. Quanto ao total de exemplares, quem pode saber ao certo?
            Além da previsão apressada da morte dos livretos populares, o interesse repentino e a falta de embasamento e pesquisa levou à mudança de nome do fato. Vejamos: no contexto popular onde os livretos são criados, vendidos e lidos, o nome anterior e ainda vigente é "folheto" ou "folheto de trovador" (com 8 páginas, cerca de 11x16cm), pois seus autores sempre se auto-denominaram trovadores. Ou então "romance", "história" quando a narrativa é mais longa e exige 16, 32 ou mais páginas. A denominação cordel tem origem erudita, influência de Portugal, e acabou chegando ao vocabulário dos autores populares.      Criou-se também este ou aquele neologismo, como "cordelista" e "cordelismo", que estão longe do padrão terminológico popular.


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SECA, CORDEL E FOLCLORE

            Observar, relacionar e generalizar fatos e coincidências com a meteorologia talvez seja uma das atividades humanas mais antigas, haja vista a relação de dependência entre o homem o meio-ambiente existente desde os primórdios da humanidade, na constante luta pela sobrevivência da espécie.
            O movimento dos astros, do vento e das nuvens, o canto dos pássaros, o comportamento de insetos e outros animais, a evolução do ciclo de determinados vegetais, a coincidência de números e datas são fatos que, aparentemente, sem qualquer relação científica, explicam, justificam e fundamentam a previsibilidade do tempo.
            Esse saber popular, acumulado ao longo dos séculos, coexiste com a meteorologia científica e sofisticado, monitorada por computadores e satélites artificiais, não apenas no sertão nordestino, mas em outras áreas do Brasil agrícola.
            Como influência nas produções literárias, é a temática da seca um dos fenômenos naturais que mais aparece nos textos de autores, de ontem e de hoje. Escritores brasileiros imortalizaram, em suas obras, a luta pela sobrevivência, as tristezas das retiradas, o drama humano, pessoal e social, advindo da seca. Raquel de Queiroz em O Quinze e Graciliano Ramos em Vidas Secas são exemplos da literatura erudita, tão clássica quanto atual.
            Já a música popular brasileira - MPB - também tem, na seca, rico filão temático. Como não citar Asa Branca, imortalizada na voz de Luiz - Lua - Gonzaga?! E Triste Partida, de Patativa do Assaré, também gravada pelo rei do baião?!
            E como o tema seca é vivenciado em diferentes manifestações folclóricas por este Brasil afora?
É nas superstições e crendices, reforçadas ou não por uma religiosidade popular, misto de fé e ingenuidade, que a população simples de áreas brasileiras, geográfica e historicamente secas, busca na proteção divina a minimização das misérias humanas e da pobreza crônica, agravadas pelas estiagens e secas periódicas. A idéia de castigo divino, corretivo de desvios de conduta, violências e descrença em Deus também justifica as secas e suas conseqüências socioeconômicas e pessoais.
            João Naves de Melo (1) descreve um ritual de preces para fazer chover vivenciado na década de 1970, no município de São Francisco. Naquela ocasião, segundo o pesquisador, procissões eram realizadas em novenas a partir do meio-dia, quando o sol é mais causticante no sertão nordestino. Mulheres, homens e crianças peregrinavam pelas ruas do município, cantando, rezando e carregando oferendas sobre a cabeça (garrafas com água, pedras e ramos verdes) em sinal de penitência e pedidos de proteção e merecimento das benevolências de Deus-Pai.
            Prática semelhante é vivenciada na região Sul, conforme reportagens em diversos jornais do país, ao longo das últimas três décadas.
            Zezito Guedes (2) registrou alguns ditos populares ressaltando a relação entre seca e religiosidade popular. Eis alguns:

- A seca é um castigo para o povo que não tem mais fé.
- A seca só aparece quando o povo está pecando demais.
- A falta de merecimento traz a seca para o sertão.
- A seca acontece de vez em quando para desconto dos pecados.
- A seca vem para que o povo se lembre de Deus.
- Pela desobediência do povo é que vem a seca para a terra.
- O povo profana a Deus e a seca vem com castigo.

            Muitos são os sinais tidos como certeza, capazes de profetizar o bom ou mau inverno. Entre os maus presságios preconizados pelo comportamento do animais sobressaem: formigas da roça procurando lugares baixos nos leitos dos rios, no final do ano, desaparecimento de abelhas com ferrão e asa branca arribando para outras áreas.
            Em relação às datas, destacam-se: o primeiro dia do ano e o segundo de fevereiro. Se chuvosos, mau inverno ou seca. Se forem claros e limpos, o inverno será bom, de fartas colheitas. Domingo de carnaval e Semana Santa com chuvas? O inverno é certo!
            Datas religiosas católicas também são referências para se prever um bom ou mau inverno: 19 de março (dia de São José) sendo o dia claro e de céu limpo, seca na certa. Oito de dezembro (dia de Nossa Senhora da Conceição) havendo relâmpagos na véspera, bom inverno. 13 de dezembro (dia de Santa Luzia) e as pedras de sal: colocadas ao sereno, de 12 para 13, representam, cada uma, um mês do primeiro semestre. Antes do amanhecer, as pedras que estiverem úmidas indicam chuvas para os meses correspondentes. Uma outra profecia de Santa Luzia consiste em observar os dias 14 a 19 de dezembro. Para cada dia corresponde um mês do primeiro semestre. Assim, chovendo por exemplo, no dia 17, o mês de abril será bom de inverno. 24 de dezembro (Natal), havendo relâmpagos para cima ou chuva, o inverno está garantido.
            O artesanato de temática da seca é muito expressivo, particularmente o de Caruaru (PE), da chamada escola do Mestre Vitalino. Pintadas ou, simplesmente, no barro cozido, são representadas cenas de retiradas, quando a população, sofrida e castigada pela seca, carrega seus poucos pertences materiais em trouxas sobre a cabeça ou penduradas no cajado apoiado nos ombros. Partem em busca de melhores dias ou, na pior das hipóteses, fogem da morte imediata e certa. Muitas vezes, famílias inteiras se fazem acompanhar pelos animais de estimação e ganham estrada a pé, em caminhões paus-de-arara ou ônibus, tornando-se fonte de inspiração para o artesão. Imagens reais que o artista popular cria e reproduz usando matéria-prima extraída da própria natureza - barro, madeira, pedra, etc.
            A xilogravura, em papel ou tecido, é outra expressão do artesanato para retratar a seca e suas conseqüências pessoais e sociais. J. Borges, poeta popular e artesão, por exemplo, é um dos artistas nordestinos que emprega a técnica da xilogravura (impressão cuja matriz é talhada na madeira) para exteriorizar sua visão de mundo, seus sentimentos, sua expressão artística, seu protesto.
            Mas, é na literatura de cordel, no folheto, que a temática da seca atinge o ápice da expressão comunicativa, enquanto crônica, narrativa, protesto político-social, jornalismo.
            É preciso não esquecer que, até meados deste século, tanto o folheto quanto o poeta popular, que improvisava e cantava nas feiras livres nordestinas, os casos e "causos", exerciam a função comunicativa que hoje cabe à mídia, em particular, ao rádio e à televisão.
            É importante lembrar que a população, cuja sobrevivência depende intimamente da relação homem/natureza, e que convive no seu cotidiano com as estiagens prolongadas e com as secas periódicas, continua sendo aquela dos menos favorecidos economicamente, quase sempre com um mínimo grau de escolaridade ou analfabetos, que usa tecnologia e equipamentos rústicos de conhecimento empírico do saber tradicional e informalmente transmitido através das gerações. Permanecendo à margem do processo criativo do conhecimento científico e do saber socialmente aceito, parcela considerável da população brasileira encontra no saber popular apoio para a sua sabedoria, refletindo-se no pensar, sentir e agir coletivo.
            "A Triste partida", de Patativa do Assaré (3), cantada por Luiz Gonzaga, talvez seja a síntese de tudo que pode acontecer e se relacionar à seca, não passando despercebido da sensibilidade do poeta popular, conforme se observa nos versos abaixo: 

Literatura de cordel (y'

Poesia narrativa, popular, impressa

            Num ciclo de estudos sobre literatura de cordel, realizado em 1976, em Fortaleza, sob o patrocínio da Universidade Federal do Ceará, indagaram ao prof. Raymond Cantel, da Sorbonne, grande estudioso do assunto, qual seria a definição mais compacta que se poderia dar do cordel. Seria apenas - perguntamos - poesia narrativa, impressa? Imediatamente, ele complementou: Popular. Então, aqui está a mais reduzida, a mais simples definição sobre cordel: Poesia narrativa, popular, impressa. Todo o acervo da literatura de cordel - cerca de quatorze mil folhetos publicados, para Átila de Almeida, embora outros estudiosos ampliem esse número - não tem sido outra coisa sequer isto: poesia narrativa, popular impressa. De maneira que, qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica. Só existe uma maneira de identificar o cordel legítimo: é através da análise da ideologia que ele reflete. O poeta popular nordestino é conservador, por excelência. Há que examinar detidamente cada conteúdo dos folhetos, através da linguagem e das idéias que ali transparecem com espontaneidade.
            Em geral, o poeta popular nordestino é católico ortodoxo. É amigo do vigário, defendendo-o em todo o sentido. Por sua vez, os padres prestigiam a tarefa dos poetas populares, quando não a exploram. O poeta popular é sempre a favor do governo. Há mesmo um célebre ditado que diz: "Contra o governo, rio cheio e pomba dura..."

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A história da Literatura de Cordel
por A. A. de Mendonça
            Nas feiras do Nordeste, é muito comum encontrar-se bancas onde são vendidos folhetos - escritos geralmente em versos (sextilhas, sextilhas ou décimas) - e que tratam dos assuntos mais variados. Estes folhetos caracterizam a nossa literatura de cordel.
            Na sua grande maioria são romances que contam estórias com a intenção de entreter ou "versos de opinião", que criticam fatos ou pessoas. É muito comum também encontrar-se alguns que reproduzem desafios, contam as aventuras de Lampião ou a vida do Padre Cícero ou Frei Damião.
            Sob uma outra visão, podemos dizer que o Cordel é também o jornal nordestino. Os desastres, as inundações, as secas, os cangaceiros, as reviravoltas políticas, alimentam o caráter jornalístico dessa produção, que chega a centenas de títulos por ano.
            Para que se tenha uma idéia dessa função jornalística, basta lembrar que quando Getúlio Vargas morreu, um dos poetas de cordel, mal ouviu a notícia pelo rádio, começou a escrever "A lamentável morte de Getúlio Vargas". Entregou os originais ao meio dia e à tarde recebeu os primeiros exemplares. Vendeu 70.000 em 48 horas.
            Outro assunto que teve grande repercussão foi "O trágico romance de Doca e Ângela Diniz". A "Carta do Satanás a Roberto Carlos" também teve grande sucesso, inspirado na música que dizia "E que tudo mais vá pro inferno!"
            Assim, a literatura de cordel, tanto pela sua parte poética, como pela arte da xilogravura, constitui uma das mais interessantes expressões da arte brasileira.
            Inspirada na literatura francesa de colportage, nos romances e pliegos sueltos ibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa(*), a nossa Literatura de Folhetos (ou de Cordel) nasceu e desenvolveu-se no nordeste brasileiro, contando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo. Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos pontos do país (e não mais só nas feiras do Nordeste), sempre incentivada pelas comunidades nordestinas.
            A literatura de cordel teve sucesso, em Portugal, entre os séculos XVI e XVIII. Os textos podiam ser em verso ou prosa, não sendo invulgar tratar-se de peças de teatro, e versavam os mais variados temas. Encontram-se farsas, historietas, contos fantásticos, escritos de fundo histórico, moralizantes, etc., não só de autores anônimos, mas também daqueles que, assim, viram a sua obra vendida a preço baixo e divulgada entre o povo, como Gil Vicente e Antônio José da Silva, o Judeu. Exemplos conhecidos de literatura de cordel são História de Carlos Magno e dos Doze Pares de França, A Princesa Magalona, História de João de Calais e A Donzela Teodora. Algumas tinham origem espanhola, francesa ou italiana, sendo depois adaptadas ao gosto português.
            Segundo os pesquisadores, o primeiro folheto de cordel brasileiro foi publicado na Paraíba por Leando Gomes de Barros, em 1893. Acredita-se, entretanto, que outros poetas tenham publicado antes, como Silvino Pirauá de Lima.
            As primeiras tipografias se encontravam no Recife, e logo surgiram outras na Paraíba, na capital e em Guarabira. João Melquíades da Silva, de Bananeiras, é um dos primeiros poetas populares a publicar na tipografia Popular Editor, em João Pessoa.
            Apesar dos altos índices de analfabetismo, a popularização da literatura de cordel foi possível porque os poetas cordelistas contavam suas histórias nas feiras e praças, muitas vezes ao lado de músicos. Os folhetos eram pendurados em barbantes (daí o nome Cordel) ou amontoados no chão, despertando a atenção dos transeuntes. Cabe ressaltar que as feiras nordestinas eram verdadeiras festas para o povo do sertão, nas quais podiam, além de comprar e vender seus produtos, divertir-se e se inteirar dos assuntos políticos e sociais.
            Os folhetos, confeccionados em sua maioria no tamanho 11x15cm ou 11x17cm e, em geral, impressos em papel de baixa qualidade, tinham suas capas ilustradas com xilogravuras na década de 20. Já nos anos 30 e 50, surgiam as capas com fotos de estrelas de cinema americano. Atualmente, ainda mantêm o mesmo formato, embora possam ser encontrados em outros tamanhos Quanto à impressão, substituindo a tipografia do passado, hoje também são usadas as fotocópias.
            Contudo, as características gráficas e temáticas dos folhetos podem variar de acordo com o deslocamento da área de atuação do poeta que, muitas vezes, se depara com um público de concepções e comportamentos diferentes aos do matuto nordestino. Exemplo disso é o cordelista Raimundo Santa Helena, tema de mestrado na UFRJ e um dos expoentes hoje da Literatura de Cordel. Paraibano radicado no Rio de Janeiro, Santa Helena mantém, em sua produção literária, o ideário e sensibilidade das composições poéticas dos folhetos nordestinos, e empenha-se, principalmente, em derrubar o mito de Virgulino Ferreira, o Lampião, que teria assassinado seu pai e violentado sua mãe em 1927.
A origem talvez seja alemã...
            Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luís da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, escreveram sobre a origem da nossa literatura de cordel; Cascudo, em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel" mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga.
            Na Espanha, este mesmo tipo de literatura popular era chamado de pliegos suletos, denominação que passou também à América Latina, ao lado de hojas e corridos. Tal denominação é ainda corrente na Argentina, México, Nicarágua e Peru. Segundo a folclorista argentina Olga Fenandéz Lautor de Botas, citada por Diéges Júnior, estas hojas ou pliegos sueltos, divulgados através de corridos, envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais - exatamente como a literatura de cordel brasileira.
            Na França, o mesmo fenômeno correspondia à littèratue de colportage - literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do occasionnels, enquanto nas cidades prevalecia o canard. Na Inglaterra, folhetos semelhantes aos nossos eram correntes e denominados cocks ou catchpennies, em relação aos romances e estórias imaginárias; e broadsiddes, relativamente às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivaliam aos nossos folhetos de motivações circunstanciais, chamados "folhetos de época" ou "acontecidos".
            Também há notícias sobre folhetos de cordel, no século XVII, na Holanda, como nos séculos XV e XVI, na Alemanha.
            Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e a dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinavam-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro), traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para ser cantado com melodia conhecida na época.
            Já a respeito dos panfletos holandeses ("pamflet", em holandês) do século XVII, os temas tratados eram políticos, econômicos, militares, quando não são terrivelmente pessoais. Um relativo à Guiana, então holandesa, relata um crime, no qual estão envolvidos personagens que vieram em Pernambuco. Há em versos, mais a maioria é em prosa, sendo freqüente a forma de diálogos ou em conversas entre várias pessoas. Uns só de uma folha; a maioria contém entre 10 a 20 páginas, em tipo gótico. Tudo isso mostra à evidência que, embora tenhamos recebido a nossa literatura de cordel via Portugal e Espanha, as fontes mais remotas dessa manifestação estão bem mais recuadas no tempo e no espaço. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, como estiveram na Holanda, Espanha, França e Inglaterra do século XVII em diante.
            No Brasil - não mais se discute - a literatura de cordel nos chegou através dos colonizadores lusos, em "folhas soltas" ou mesmo em manuscritos. Só muito mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias no fim do século passado, a literatura de cordel surgiu e se fixou no Nordeste como uma das
peculiaridades da cultura regional.

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Grandes autores da poesia popular brasileira

   Centenas, talvez milhares de autores poderiam ser listados aqui, mas vou falar dos três mais conhecidos.

Leandro Gomes de Barros

  Foi o mais importante e mais famoso autor da literatura de cordel brasileira. Seu livreto “O Cachorro dos mortos” vendeu mais de um milhão de exemplares.

João Martins de Athayde

   Autor popular que mais produziu. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros quando da sua morte, passando a editar também seus poemas.

Cuíca de Santo Amaro

  O mais terrível poeta popular. Fazia denúncias contra corruptos e poderosos de sua época. Era amigo íntimo de Jorge Amado, que o incluiu como personagem em seus Tereza Batista, Cansada de Guerra e no conto A morte de Quincas Berro D’água.

   Afinal, temos ou não um país de leitores?
   Não, não temos. Com o caos social que vivemos hoje, a urbanização e, sim, a marginalização dos antigos camponeses, a literatura de cordel mudou bastante, refletindo agora a nova realidade que o povo vive.
   Tudo isso não significa que o brasileiro lê mais ou menos. Significa que a literatura popular está longe de desaparecer e continua aí para, talvez, ser uma primeira opção na luta pela difusão da leitura no Brasil.

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A literatura de cordel no Brasil

            Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso pelo público, as produções literárias de populares tiveram seu apogeu apenas no século XX.
            Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela poesia popular. A prosa aparece muito mais na forma oral, que passa de geração para geração.
            Como é uma manifestação muito mais cultural do que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a Nordeste e a Sul.